domingo, 31 de agosto de 2008

Capítulo I - Museu de Novidades


Somente na sala de embarque, depois das despedidas, percebi que estava indo embora. Alguns abraços não foram possíveis, outros sim, mas deveriam ter sido mais demorados.

Depois das despedidas, já na sala de embarque, ainda dava pra ver minha mãe, meu irmão e alguns amigos, mas já havia o Atlântico inteiro entre nós.


Diário de bordo:

De Recife até Salvador fui sentado entre Vitor e André. Cada um com o olhar mais vago que o outro. Tentávamos distração, mas era certo que após algumas risadas viriam longos silêncios onde cada um pensava no futuro e lembrava do passado de minutos atrás.
Estevão e Romildo foram sentados mais ao fundo. Não nos falamos durante o vôo. Somente nos reencontramos em Salvador, onde tivemos que fazer conexão com o próximo vôo que nos levaria até o Rio de janeiro. Falamos sobre música, futebol e outras coisas enquanto aguardávamos.
Assim que embarcamos no segundo vôo, o sono já era mais forte e André babava na camisa. No outro lado uma moça loira, alta, magra e natureba que puxou assunto comigo:

-Você é de Salvador?
-Não, de Recife! E Você?
-Do RJ, Angra. Vim a Bahia pra meditar numa praia, mas acabou que meu vôo atrasou e nem deu tempo de ir. Tive que voltar!
-Ah!
-Onde você vai ficar no Rio?
-Tô indo pra Angola. O Rio é só uma escala.
-Que legal!
-É...

Ela me deu um panfleto de um local pra meditação em Angra e virou-se. Agora era eu quem estava com sono. Dormi.

Chegamos ao Rio de janeiro, já cansados, e ainda tínhamos seis horas de espera e mais sete horas de vôo até Luanda.

Já havia visto André escrevendo coisas no seu caderno, provavelmente coisas mais sentimentais que isso que escrevo agora. Pensei em escrever como ele, mas aquilo tudo pra mim ainda era normal apesar da carga emocional que havia.

O avião que nos trouxe até a África tinha acabado de chegar. É aí que começa de verdade a história que eu quero contar!


fotografia 001

foi para isso que vi,
rente ao sobre-cú de minha mãe
onde um sem número de borboletas
descansam em minhas costas,
todos os teus sorrisos distantes
parados em minha confusão.
foi pra te ver que parei meu dia.

sábado, 30 de agosto de 2008

A SAGA DA MORTE DE SEU ANGOLA



Eram seis e dez da manhã,
o céu se encontrava nervoso
sem nuvens as garças permaneciam em pouso por sobre os blocos
concretos tingiam de cinza a paisagem
impossibilidade de distinção
terra rubro, mar preto,
e o céu
aquele mesmo que seu angola teimava em olhar estático
o ponteiro do relógio girava
enquanto as pessoas circulavam
coloridas como nada que as cercavam
as cartas
passando de mão em mão
vez ou outra um novo adereço comestível era saboreado
a negra velha repousara a porta
saia e blusa expunham a criançada a se mover
entre palhoças e bancos todos confraternizavam
seu angola a ver novos rostos cansados a sua frente
tudo parecia muito dinâmico para seu angola
em especial a certeza que amanhã outro céu,
outra nuvem há de passar e,
outro "seu angola" estará a olhar o vazio.

A SAGA DA MORTE DE SEU ANGOLA
*ritual de velório angolano

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Nós no Futuro


Eu no futuro
Lula Queiroga

Mama, olha eu no futuro
Mandando um abraço
Pelo cyberespaço
Mama, eu não faço mais besteira
Tá tudo mudado
Eu virei
Vagabundo globalizado
Mama, eu tô virado,

Eu virei...

Mama meu samba é guerreiro
Mesmo que qualquer distância
É menor que a saudade
Mama, hoje tem batuque no terreiro
Já tô avisado,
Eu virei
Vagabundo considerado
Um siderado brasileiro

Eu no futuro, mama olha eu
Eu no futuro, mama olha eu

No futuro a onda é diferente
Mas tem miséria igual

Tem solidão também
Minha janela dá prum céu escuro
Mas aqui é o futuro

A cozinha lá de casa não tem gravidade
E se eu abro a torneira
A água voa
E as panelas saem prá passear
Sob a garoa

Mama, eu tô a toa,
Mas quando eu penso em você
Eu tô seguro

Eu tô no futuro
Eu no futuro (mama, olha eu)
Eu no futuro
[andré + pc + estevão + romildo + vitão + sávio]