terça-feira, 28 de outubro de 2008

75x15

nós começamos a ir, sozinhos ou dois a dois. despedidas, cartas, abraços, lembranças...
os que vão, deixam uma saudade pertubadora
os que ficam, continuam em guerra, lutando por sanidade
merecidos 15 dias de cessar fogo

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Capítulo VI - Sete Freguesias


Vez por outra eu André nos cumprimentávamos felizes por mais uma aventura. Essa certamente era a maior de todas e com mais coisas em jogo também. Ele tem mulher e filho, uma família, e eu me seguro na coragem dele para estar aqui.

Não sei ao certo quando isso tomou essa proporção. Nem faz tanto tempo assim que nos conhecemos e já batemos as sete freguesias juntos.

O amigo pulguento agora me acompanhava no meu primeiro emprego de carteira assinada. E, para não ser normal, aquilo se passava na África onde nunca imaginamos ir.

Embora soubéssemos que tudo aquilo era novidade, foi só começar o trabalho que os dias pareceram se repetir. como um jogo dos sete erros.

Mas os “erros” faziam a gente diferenciar um dia do outro. Os detalhes começaram a se tornar mais valorizador por nós, enquanto os dias se sucediam sem muitas mudanças.

Acordar depois do alarme, enfrentar um trânsito caótico até o trabalho, tomar café, trabalhar, almoçar, jantar, ir para casa num trânsito igualmente caótico (ou pior), conversar sobre o dia que passou, beber um pouco e ir dormir. Era isso, em síntese.

Aos sábados trabalhamos menos e, consequentemente, bebemos mais, pois sobra tempo pra conversar sobre tudo.

Os domingos geralmente começam ao meio dia. Sonzinho ligado num volume baixo e na canção característica da nossa república:

“Qualé, mago? Tá com saudade da praia, né, nego?”

O mais estranho é que as coisas se repetem e ficou muito difícil acompanhar tudo. Nesse intervalo de tempo que estivemos aqui já aconteceu de tudo um pouco:

Fomos apresentados à república onde moramos. Dias depois me elegeram presidente dela (mãe, virei presidente da república!!!), festejamos o aniversário de Vitor, depois o de Estevão, conhecemos um cara, Moniz, que já teve o carro atacado por uma leoa (A Leoa!), tomamos banho no Atlântico pelo lado de cá das águas (só pra contar a história), melhoramos na cozinha, fomos a outra província com amigos angolanos, entramos numa confusão daquelas nesse lugar, comemos peixe à beira da estrada e nos tornamos bem mais amigos.

Isso tudo num piscar de olhos. Falta pouco tempo pra ir em casa.

Angola!

Essa freguesia ainda vai render história, meu véi!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ro-ti-na



Costumamos dormir tarde. Cada um vai desistindo de lutar contra o sono e vai se entregando,
recolhendo-se para o lugar mais íntimo, seus quartos.
A dormida não é difícil. Apagasse as luzes do dia, fecham-se os olhos e logo adormece.
O cansaço se encarrega do resto. Dormido algumas horas o corpo já relaxado teima em acordar
e iniciar o processo de espasmos. Ora pela posição do travesseiro,
ora pela coberta que sempre cobre mais uma parte, deixando outra descoberta, ora pelo frio,
ora para religar o ar.
A partir desse momento o tempo enlouquece.
Horas parecem minutos e piscadas parecem uma eternidade.
Daí em diante é deixar a cabeça guiar e o corpo relaxar no sono.
Alguns dias o sono é profundo. Outros não se dorme.
Quando se menos espera escutasse a porta do quarto abrir. Já sei que é Estevão saindo do seu quarto para bater as nossas portas.
Primeiro na de PC, que responde quase sempre com um "Oi" empolgado querendo demostrar logo que está acordado e
poder dormir um pouco mais. É a vez da minha porta.
TOC,TOC:  - André!
Sempre respondido com a maior preguiça de todos. A vontade de continuar o sono, que parece ter sido tão pouco, é enorme.
A torcida para hoje a porta não me chamar somado a razão pedindo para levantar pois terei apenas quinze minutos de banheiro,
já que são cinco e quarenta e cinco, a van chegará as seis e quinze e PC está a dormir.
Sendo assim levanto e parto pro banheiro. Aquele olhar pro rosto amarrotado.
Vendo os sonhos acabarem e serem substituidos pelo iniciar do dia.
Uma chuveirada. Ao sair já vejo o Negão pronto preparando seu desjejum matinal.
Dias bolachas, dias iogurte, dias suco, dias sanduiche com geléia de amora.
Claro que nem imagino compartilhar a comida. Pois não dará tempo mesmo.
Então opto por comer no refeitório.
Mas antes disso ainda temos uma longa viagem diária a fazer.
no início duravam uns setenta e cinco minutos. Hoje duram entre duas e três horas.
Chegamos no Estaleiro de Chicala.
Uns vão logo tomar café. Outros preferem checar emails e ler jornais.
Indo tomar o "pequeno almoço" mais tarde.
Todos de volta a sala. O trabalho é iniciado.
Tendo interrupções apenas para fumar cigarros, tomar um ar, trocar algumas palavras, ir ao banheiro
[ora para escovar os dentes em coletivo, ora para outras necessidades].
Vai se aproximando do almoço, é perceptível o aumento no ritmo da produção.
Aí, uns escolhem almoçar e descansar no jango, outros conversar internamente e internacionalmente.
Mata-se a saudade, a canseira, a fome.
É quando todos almoçam que o trabalho retoma. Junto com a produção produção de café.
Uns doces, outros "amargos como a vida é".
Aos poucos o ritmo acelera. Quando se aproxima das seis.
Hora de fechar a budega, jantar e retornar a vanpara mais uma viagem mais cansativa ainda. Muitos dormem nessa hora.
Muitos se agitam. O zoológico acorda. Até chegarmos em casa. Arrumamos gás para qualquer atividade.
Caminhar, correr, capoeira, msn, livros, cozinha, bebidas, conversas e assim o sono vai chegando aos poucos grandes que somos.

RO-TI-NA