
Depois das despedidas, já na sala de embarque, ainda dava pra ver minha mãe, meu irmão e alguns amigos, mas já havia o Atlântico inteiro entre nós.
Diário de bordo:
De Recife até Salvador fui sentado entre Vitor e André. Cada um com o olhar mais vago que o outro. Tentávamos distração, mas era certo que após algumas risadas viriam longos silêncios onde cada um pensava no futuro e lembrava do passado de minutos atrás.
Assim que embarcamos no segundo vôo, o sono já era mais forte e André babava na camisa. No outro lado uma moça loira, alta, magra e natureba que puxou assunto comigo:
-Você é de Salvador?
-Não, de Recife! E Você?
-Do RJ, Angra. Vim a Bahia pra meditar numa praia, mas acabou que meu vôo atrasou e nem deu tempo de ir. Tive que voltar!
-Ah!
-Onde você vai ficar no Rio?
-Tô indo pra Angola. O Rio é só uma escala.
-Que legal!
-É...
Ela me deu um panfleto de um local pra meditação em Angra e virou-se. Agora era eu quem estava com sono. Dormi.
Chegamos ao Rio de janeiro, já cansados, e ainda tínhamos seis horas de espera e mais sete horas de vôo até Luanda.
Já havia visto André escrevendo coisas no seu caderno, provavelmente coisas mais sentimentais que isso que escrevo agora. Pensei em escrever como ele, mas aquilo tudo pra mim ainda era normal apesar da carga emocional que havia.
O avião que nos trouxe até a África tinha acabado de chegar. É aí que começa de verdade a história que eu quero contar!