sábado, 30 de agosto de 2008

A SAGA DA MORTE DE SEU ANGOLA



Eram seis e dez da manhã,
o céu se encontrava nervoso
sem nuvens as garças permaneciam em pouso por sobre os blocos
concretos tingiam de cinza a paisagem
impossibilidade de distinção
terra rubro, mar preto,
e o céu
aquele mesmo que seu angola teimava em olhar estático
o ponteiro do relógio girava
enquanto as pessoas circulavam
coloridas como nada que as cercavam
as cartas
passando de mão em mão
vez ou outra um novo adereço comestível era saboreado
a negra velha repousara a porta
saia e blusa expunham a criançada a se mover
entre palhoças e bancos todos confraternizavam
seu angola a ver novos rostos cansados a sua frente
tudo parecia muito dinâmico para seu angola
em especial a certeza que amanhã outro céu,
outra nuvem há de passar e,
outro "seu angola" estará a olhar o vazio.

A SAGA DA MORTE DE SEU ANGOLA
*ritual de velório angolano

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