quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Capítulo V - Funji do Bombó


Ali brindamos com um bom vinho, sugestão do Sr. Eduardo, proprietário do Hotel Histórico onde ficamos. Éramos os primeiros hóspedes daquele hotel que nem tinha sido inaugurado ainda. Tudo bem arrumado nos quartos e pessoas simpáticas a atender.

Nos sentimos a vontade enquanto ali ficamos e aos poucos conhecíamos singularidades dessas terras de cá.

Domingo e segunda feira: nada de cérebro de macaco, buchada de hiena, rabada de antílope ou coisa parecida. Era feijão, arroz, macarrão e carne, tudo bem brasileiro e, no máximo, um bacalhau pra dar o toque do colonizador.

Nada de novo.

O cardápio trazia um monte de opções e preços variados. Ninguém sabia o valor de cada coisa, porque tudo estava em moeda local, o Kwanza. Mas comíamos.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas, entre uma garfada e outra, eis que Alguém se inquieta e diz:

- Porra, a gente tá em Angola, comendo comida do Brasil?
- Caralho, é mermo...
- Vamos pedir comida daqui, moçada!
- Bora!

Esse era Romildo. Gente fina que ri de toda besteira que falo.

Lá ia ele investigar a culinária local:

- Moça, como é o seu nome?
- Diga?!
- Como você se chama?
- Ah! Katila.
- Katila, quais são os pratos típicos daqui de Angola?

Foram lguns minutos de conversa enquanto ela explicava o que era e como preparava cada coisa. A galinha cabidela era praticamente igual a nossa, apenas era preparada com ginguba (amendoim) triturada. Servia-se também ginguba torrada como tira gosto do fino (chope), mas o prato marcante seria outro:

- Katila, o que é Funji de Bombó?
- (...)

Ela explicando, parecia ser um pirão feito com massa de milho ou de mandioca. Resolvemos experimentar.

Ele foi o primeiro a se manifestar e dizer que gostou. Começava ali a conhecer essa figura chamada Romildo. Um entusiasta, uma pessoa tranqüila e de um humor refinado.

O grande lance é que o danado do Funji de Bombo não tem gosto de nada.

Não tem sal, nem tempero. É a massa, a água e o fogo pra ferver.

Na verdade, ninguém achou gostoso (até porque não tem lá tanto gosto), mas o simples fato de Romildo ter se aventurado a conhecer o tal do Funji de Bombó já me fez pensar diferente.

Estamos em outro lugar e não no mesmo de sempre. Aqui as coisas são parecidas, mas nunca iguais.

Ali me dei conta de como deveria observar, entender e respeitar tudo que de novo me aparecia. Comecei a entender o que aqueles olhares, aparentemente inexpressíveis lá do largo de terra batida queriam dizer.

Agora estava começando a conhecer  Romildo, o cara que gosta de Funji de Bombó!

4 comentários:

Suporte disse...

como, recomendo e como novamente!
e ainda parafraseio um mangolê que assim disse para o Pê-Cê-man: "e tem que meter (colocar) muito... pra sentir o efeito..."

Funji dá barato.

[adryana.rozendo] disse...

hauhauhauahuhauhauhauhauhauhuhua

romildo romildo... tu ainda vira estória de quadrinhos

beijo em todos

Unknown disse...

Comer não é só o saciar a fome e as necessidades nutricionais. É o prazer de compartilhar com pessoas queridas momentos agradáveis, risadas, conversas. Isso aprendi com Romildo. Essa figura humanamente incrível, curiosa, tranqüila de sorrisos e idéias fáceis. Um grande irmão, que certamente é meu amigo. Mas também poderia ser um amigo-irmão.
Eu tinha que conhecer Romildo nessa vida.
Beijo grande Mildo.

Obs: P.C,ler esse seu texto me deu muito mais saudades do meu irmão.

anely. disse...

opa... traz um tikin disso pra mim ^^