quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Operação Candonga_v 01


Hoje, dia 14 de setembro de 2008, acordei cedo, comi um pão com geléia de amora e, como todos dormiam, fui a casa dos meninos [sávio, marcola e vitão].
O mano vitu preparava seus pãezinhos com queijo e molho.
Acordamos sávio e iniciamos a preparação para nossa aventura.
Ir a feira do Benfica de candonga.
Tentamos acordar PC, Romildo e Estêvão, mas eles não toparam.
Então saimos nós três com um único intuíto: se libertar e conhecer as peculiaridades da terra.
Sávio com seu tênis verde, bermuda quadriculada e camisa amarela do São Bento Pequeno.
Vitão com uma calça azul e uma camisa cinza e um chapeu que só nos lembrava o carnaval.
E eu com minha bermuda amarela, minha “camisola”do sport,
  meias azuis e meu tênis.
Os meninos levavam ainda mantimentos nas suas bolsas de costas.
Tinhamos uma pêra, uma garrafinha de água, protetor solar, máquina fotográfica.
Chegamos na portaria e nos informamos: como ir para o Benfica?
saimos a pé, felizes, caminhando até o SHOPRITE. No caminho a primeira parada.
Observar uma cena excêntrica, um homem estático sentado no meio da rua, enrolada com panos que lembravam um mendigo brasileiro.
Tentamos fotografá-lo. Ele permanecia estático.
A máquina quebrou e nada de fotos.
Com isso a estigação de captar visualmente tudo de novo aumentou e cada olhar buscava entender os significados, os não significados.

No Shoprite perguntamos a dois mangolês, que logo nos colocaram no táxi de Sonito.
Um Corolla e 50 Kwanzas pra cada e ele nos deixaria no Supermercado Mundo Verde.
Fizemos uma proposta de mais 400 Kwanzas para Benfica.
E fomos lá, com Sonito contando sua história e as histórias de Angola.
Paisagens belíssimas.
Em especial quando o passamos com o carro num filete de um rio.
Muitos carros dentro do rio sendo lavados, muita gente molhada e feliz para ir pra praia.

A feira do Benfica surgia nas nossas vistas.
Nossa expectativa era de encontrar muitas barracas, como a feira de Prazeres, em Jaboatão.
Mas não. Uma feira com umas 40 barracas, corredores bem definidos, ladeando uma grande exposição de quadros ao ar livre, instalada em um largo.
De imediato fomos surpreendidos por um angolano, o Miguel “Cebola”.
Ele nos guiou por toda feira narrando cada momento, cada detalhe, mostrando as peças que estavam a venda, nos apresentando cada vendedor, cada instrumento, e mais que isso, nos dando dicas de como comprar.
Preços muito flutuantes, aumentando ou diminuindo de acordo com a conversa, a amizade que se mostrava a cada vendedor, que pareciam personagens de uma grande peça.
Conhecemos o Zé Branco, um negro que logo que chegamos me puxou querendo trocar qualquer coisa pela minha camisa.
  Ele se apresentava como o único vendedor com barbicha comprida.
Me assustei um pouco com as primeiras abordagens querendo minha camisa. Mas com o tempo notei que estava numa feira de verdade, onde tudo é moeda de troca.
Escambo.
E descobri que uma das favoritas moedas são as camisolas de futebol.

Muitos brasileiros vão a feira com sacos e mais sacos de camisolas e voltam com muitas peças.
Algumas esculturas se destacaram ao meu olhar: os panos feitos a mão, muito artesanal, algumas esculturas com mulheres carregando crianças, as palancas negras, o caçador, o pensador, as mesas esculpidas com tanta delicadesa, o xadrez e a
  kiela, o instrumento de percussão marimba com um som muito doce e algumas máscaras.
Essas também me assustaram, pois eram muito primitivas, algumas paracendo cabeças de deuses, pessoas, monstros ou sei lá o que.
Chegou a hora de irmos embora pois já tinhamos visto tudo e a sede era grande. Nos depedimos de Cebola, referência da feira, por dialogar em várias línguas com turistas.
Fomos cuidadosamente deixados na candonga de volta.
Dentro dela o clima era muito amistoso. Alguns olhares curiosos por estarmos andando nesse transporte e não nos grandes carros, normalmente utilizados pelos turistas.
Voltavamos para casa escutando música até que tocou Vanessa da Matta, as 13:00hs.
Nos entre-olhamos e não seria preciso dizer mais nada. A felicidade e estiga de conhecer mais coisas bateu e resolvemos descer da candonga e ir a praia.
Ficamos num pequeno largo, a candonga seguiu, compramos uma coca-cola e três cervejas Cristal.
E ficamos tomando-as na beira da estrada, interagindo com os mangolês que vendiam seus produtos.
Na hora de pegar a nova candonga pra voltar pro Benfica, tiraram algumas fotos conosco felizes e nos despedimos mais uma vez.
Com essa candonga fomos para um grande vazio urbano, utilizado como terminal de passageiros. Esperavamos, tomando mais cervejas, mais um transporte, para Ramirez.
No caminho fomos apreciando a estrada, as vistas, o céu que estava o menos acinzentado desde quando chegamos em Luanda, e o grande mar que estava a nossa direita cercado por baías. Belíssimas vistas inimagináveis.

Fomos perguntados se queriamos descer na praia com um grande morro ocupado por grandes e antigos imbudeiros, com vários abrigos de palha para turistas estacionarem seus carros e ficarem num clima bem familiar, ou se gostaríamos de ir pra praia no Museu da Escravatura (?), acho que era isso.

Resolvemos ir pro Museu.

Um lugar cheio de carros. Nos perguntávamos onde estão as pessoas para tantos carros.
Rodamos e nada de turistas. Erámos os únicos.
Então resolvemos interagir. Fomos em direção as pessoas.
Asa então surgiu na nossa história, oferecendo seus serviços de travessia para a ilha do Mussulo.
Tentamos negociar para baixar dos 500 Kwanzas para 100, mas nada feito.
Compramos mais cervejas e nesse momento fomos cercados por mangolês do Prenda dizendo que erámos amigos e pedindo para pagarmos bebidas para eles.
Clima mais ostil que sentimos, pois ficamos sem muita opção.
Voltamos atrás, para falar com Asa que iríamos para Mussulo. Negociamos 300 para cada e ela nos levou, nos prometendo que lá encontraríamos “sítios” onde poderiamos comprar comidas e bebidas e fomos no barco apreciando a paisagem nova e novamente bela, de poucas construções e muitas riquesas naturais.
Pisamos na ilha as 14:30. Combinamos com Asa de nos pegar no mesmo deck que descemos as 16:30 e fomos desbravar a ilha.
Caminhada e mais caminhada e todos diziam que era muito longe o sítio de restaurantes.
Passavámos pelos terraços das grandes casas tentando arrodiar a ilha. E nada de chegar um espaço com vendinhas a beira mar. Várias casas de veraneio isoladas umas das outras por vegetação compunham o cenário. Já tinhamos tirado as camisas, os tênis, trocado as bolsas e nada de chegar então resolvemos voltar e curtir o lado familiar da ilha.
Ficamos então no deck, com os pés naquela água gelada, dividindo nossa única pêra e vendo as crianças pularem do deck no mar gelado, numa brincadeira que não tinha fim.
Depois de muito avistamos Asa trazer mais um turista e chegou a hora de voltarmos.
Atravessamos de volta o mar, e fomos pra beira da estrada pegar nosso transporte de volta.

Uma candonga cheia de história vivida pra contar parou. Faltavam retrovisor, algumas partes da lataria, alguns buracos no banco mas muita alegria, muita música, Socorro (banda Angolana) e muita diversão.
Por sorte essa mesma foi expressa até o Supermercado Mundo Verde.
Agradecemos a companhia das pessoas e ficamos descemos com apenas 2000 Kwanzas no bolso e mais uma candonga a pegar.
Descalços até agora, com sorrisos nos rostos, e felicidade exalando tentamos pegar carona.
A primeira tentativa não deu certo.
Um carrão vinha com duas mulheres dentro.
Não querendo desistir mas meio sem esperança acenamos por carona.
E elas pararam.
Iam pro Belas Shopping, pro cinema.
Perfeito.
Descemos lá e fomos caminhando felizes e completos por esse dia tão lindo que vivemos.
No caminho de casa ainda cruzamos com uma “matilha” de bicicletas que circulavam pelas ruas.
Interagimos mais um pouco e quase saimos com uma bicicleta.
Continuamos e chegamos em casa.
Cansaço imenso de tanta informação.
Almoçamos e passamos o resto do dia borestando.

Obrigado


* única fotografia tirada no passeio devido a quebra da máquina

9 comentários:

Unknown disse...

Maravilha, descrição digna de um grande escritor. Simples, sincera,
emocionante. Escreva mais. Visite a feira de Roque Santeiro, espetacular, mas se informe antes de ir.
Abraços a todos e a meu filho em especial.
Ronaldo

lineca disse...

fiquei feliz só de ler...

Ana Maria Pedroza disse...

adorei!
que droga a máquina quebrar...
nenhuma foto a mais!?!?!?

sacanagem...

beijo dré!

[adryana.rozendo] disse...

puxa!!!

anely. disse...

ae que feliz!!! quero uma maraca de som doce =] ah! e nun vende a camisa não viu!!! beijo e mil dias assim pra vcs =*

Unknown disse...

Agora sim!!! Parece que estamos em uma segunda fase dessa novela da vida real, que são as aventuras de vcs em Angola.
Fiquei muito feliz em ler esse capítulo.
Me expliquem: o que é SHOPRITE?

Unknown disse...

Eita!uma correção. Identifiquei, na verdade, três fases da aventura de vcs: o deslumbramento, o choque e, agora, o desbravar. Estamos na terceira fase e não na segunda.

Suporte disse...

SHOPRITE: Sm. Grande estabelecimento comercial próximo ao Vale dos Pássaros, ao lado do Belas Shopping, em que o comprador retira as mercadorias das prateleiras ou estantes, efetuando o pagamento da despesa à saída. Local onde se compra inconstantes infusões de folhas de vários cantos do planeta, pois jamais existe estoque. ex.: "Manoel, Shopláite!"

Unknown disse...

Valeu!!! Mildo Aurélio, Mildo, Mildo, Mildoooooooooooooooooooooo.
Beijão.